Quem foi Maria Firmina dos Reis
Poeta e escritora negra, filha de escravizada, Maria Firmina dos Reis foi a primeira pessoa a publicar um romance no Brasil, “Úrsula” (1859).
“E logo dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas. Era uma prisioneira — era uma escrava! Foi embalde que supliquei em nome de minha filha, que me restituíssem a liberdade: os bárbaros sorriam-se de minhas lágrimas, e olhavam-me sem compaixão...”
“Úrsula”, de Maria Firmina dos Reis
Filha de Leonor Filipa dos Reis, mulher negra alforriada, Maria Firmina nasceu em 11 de março de 1822, na ilha de São Luís do Maranhão.
Em 1830, Maria Firmina e a mãe se mudaram para a vila de São José dos Guimarães (MA).
Autodidata, Maria Firmina foi a primeira mulher aprovada em um concurso público no Maranhão, para o cargo de professora de ensino primário.
Ela também fundou a primeira escola mista e gratuita do Brasil, que sobreviveu apenas por três anos.
De 1853 a 1903, Maria Firmina manteve um diário. Entre outras anotações, está o registro do poema “Uma lágrima sobre um túmulo”.
“Era a hora do silêncio e do repouso, hora mágica ― misteriosa ― grande ― sublime ― majestosa como Deus! Triste, melancólica como a imagem do túmulo…”
“Uma lágrima sobre um túmulo”, de Maria Firmina dos Reis
Em 1859, publicou “Úrsula”, sob o pseudônimo de “Uma Maranhense”. O primeiro romance publicado no Brasil é uma contundente crítica à escravidão.
“Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras.”
“Úrsula”, de Maria Firmina dos Reis
Firmina também publicou a novela “Gupeva”, contos e inúmeros poemas.
“Na hora em que vibrou a mais sensível / Corda de tu’alma ─ a da saudade, / Deus mandou-te, poeta, um alaúde, / E disse: Canta amor na soledade.”
“O meu desejo”, de Maria Firmina dos Reis
Apesar de ter seus livros e poemas publicados em antologias e jornais, não há retratos de Firmina. A imagem mais difundida como sendo sua é, na verdade, o rosto de outra escritora, a gaúcha Maria Benedita Câmara.
Maria Firmina dos Reis morreu, pobre e cega, em 1917, aos 95 anos.
“De tudo o que mais dói, de quanto é dor / Que não valem nem prantos, nem gemidos, / São afetos imensos, puros, santos / Desprezados – ou mal compreendidos.”
“A dor que não tem cura”, de Maria Firmina dos Reis
Em 2022, Maria Firmina dos Reis foi escolhida como a autora homenageada da Flip, Festa Literária Internacional de Paraty