Quem foi Carolina Maria de Jesus?
A Quatro Cinco Um fez um breve perfil de uma das maiores escritoras do Brasil
Mulher negra, mãe solo, migrante, favelada, pobre, com pouco estudo formal, Carolina Maria de Jesus tornou-se uma das escritoras brasileiras de maior sucesso, tanto no país como internacionalmente.
Carolina nasceu em Sacramento (MG), em 14 de março de 1914. Teve acesso ao estudo formal por cerca de dois anos e passou a juventude trabalhando como empregada doméstica. Com sua mãe, migrou de Minas para São Paulo, em busca de uma vida melhor.
Ao chegar à capital paulista, Carolina conta que foi tomada por um desejo de escrever. Em 1948, foi morar na favela do Canindé e, cansada das patroas e por necessidade, começou a trabalhar como catadora de papel.
O jornalista Audálio Dantas se encantou com os diários de Carolina ao conhecer a escritora enquanto fazia uma reportagem na favela do Canindé, em 1958. Ele se comprometeu a encontrar uma editora para publicá-los.
Sua vida na favela e seu trabalho nas ruas são temas de seu primeiro livro publicado, “Quarto de despejo”. Um mês após ser lançado, em agosto de 1960, o livro entrou em sua terceira edição, com 50 mil exemplares, e, em menos de cinco anos, já estava traduzido em dezenas de línguas.
Carolina também compôs uma série de canções para “Quarto de despejo”. As músicas, gravadas com sua voz, estão em um álbum de MPB da gravadora RCA Victor, lançado em 1961.
Mesmo antes de ser “descoberta”, Carolina já tinha uma produção literária significativa, especialmente de poesia, e alguns de seus poemas já tinham aparecido em jornais. Boa parte de sua produção poética está reunida em “Clíris: poemas recolhidos”.
Um ano depois de lançar seu primeiro e maior sucesso, Carolina lança outro diário, sobre sua saída do quarto de despejo. Em “Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada”, a escritora se aprofunda nas questões e estigmas relacionados a sua condição de mulher negra vinda da favela.
Em seguida, Carolina lança “Pedaços de fome”. No único romance de sua autoria, publicado em 1963, a protagonista é uma mulher branca e rica, vinda do interior para a capital, que acaba tendo de sobreviver com subempregos e ir morar em uma favela. O romance teve menos repercussão que os diários.
Uma parte da produção da escritora foi publicada após sua morte, em 1997. Em “Diário de Bitita”, Carolina escreve sobre sua infância em Sacramento e as condições socioeconômicas do país no pós-abolição. O título originalmente dado pela autora ao livro era “Um Brasil para os brasileiros”.
Carolina teve três filhos: Vera Eunice, João José, que morreu em 1997, e José Carlos, morto em 2016 e pai de quatro filhas. As herdeiras de Carolina Maria de Jesus estão em disputa pela divisão de seus bens. “Quarto de despejo” já foi publicado em mais de 40 países e vendeu mais de 1 milhão de cópias.
Textos e produção:
Quatro Cinco Um
Imagens:
Acervo UH/Folhapress,
Arquivo Público do Estado de São Paulo/Última Hora,
Arquivo Nacional/Correio da Manhã
O episódio Fabulações de Carolina foi feito com o apoio do C6 Bank e da Companhia das Letras.