Deixei crescer muito a minha unha do [indicador direito para poder escrever os meus poemas nas [paredes da cela porque no asilo onde me fecharam não me dão tinta nem papel para escrever escrevo durante a noite porque durante o dia os asilados que estão sempre na cela comigo estão sempre a espiar-me e quando os outros se põem a olhar [para mim deixo de saber como me chamo tenho saudades do meu quarto no alto da torre de marfim
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Quatro cinco um
que mandei construir em Pondichéry chamava o meu criado com um sistema complicado de [campainhas porque a torre tinha mil e sete degraus pensava que se Diderot fosse a Pondichéry não podia deixar de me visitar mas Diderot foi a Pondichéry e não me avisou agora quando batem à porta da cela penso primeiro que é Diderot que me vem visitar mas lembro-me de que Diderot morreu e fico com medo de que seja alguém para me cortar as unhas.
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“Sem título”
Quatro cinco um
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“Adília Lopes é uma poeta que se vai descobrindo em camadas. Há um mistério nela e em seus textos, que parecem sempre dizer e desdizer ao mesmo tempo.
Quatro cinco um
Por que a indicação?
Adília é pseudônimo de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, que escreve com fino sarcasmo e numa linguagem límpida, que, embora possa parecer simples, está longe de ser fácil. É justo o que me admira em sua poesia. Escreve longos poemas, de certa forma encadeados, romanescos. Pescar seus poemas é sempre recortar um frame.
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Por que a indicação?
Quatro cinco um
Fiquemos com o que encerra “O poeta de Pondichéry”, em que um escritor vive às voltas com um crítico que sempre acha seus poemas maus e assim o cerceia. Filho de joalheiros, o poeta enriquece em outro lugar, segue a vida, mas jamais abandona a poesia, sempre assombrado pelo crítico.
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Por que a indicação?
Quatro cinco um
O poema sem título aqui é o último frame dessa história e sempre me impressiona porque também tenho muito medo de virem me cortar as unhas.”
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Por que a indicação?
Quatro cinco um
Um poeta indica...
Ana Elisa Ribeiro nasceu em Belo Horizonte (1975), é professorae pesquisadora do Departamento de Linguagem e Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Escreve crônica, conto e poesia e publicou “Álbum” (Relicário Edições).
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Quatro cinco um
...outro poeta
Adília Lopes, pseudônimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, é uma poeta, cronista e tradutora portuguesa. Escreveu “Aqui estão as minhas contas” (Bazar do Tempo).